quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Ando com os zóio cheios d'água.

O peito anda cheio de emoções, como sempre esteve. O sorriso continua largo, até nos momentos adversos. A ansiedade ainda me perturba. A calma continua passando longe. A nostalgia continua me visitando. A saudade nunca passa. Os cabelos continuam longos. Os vícios continuam tentadores. O som da chuva ainda agrada os meus ouvidos, mesmo preferindo o sol. A fé continua me intrigando. O amor sempre me fascinando. O mar continua encantador, com todo seu conforto. A Lua continua sendo a casa de Jorge. O prazer continua sedutor. A carne continua fraca. As paixões continuam me possuindo. Os amigos sempre serão sinônimos de felicidade. E Bethânia ainda me destrói por dentro.

Mas os meus olhos... acho que ficaram bestas, estão brincando de molhar o meu rosto.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Olhos no Espelho*


Um dia a menina esqueceu até que o moço existia... Nenhuma vaga lembrança da desprezível convivência.
Rever aqueles miúdos olhos arrancaram um sorriso tímido e inesperado. Pronto! Foi o que bastou. Como há tempos não fazia voltou até a cantarolar o Buarque e vivia a imaginar.
Até que os lábios se tocaram e o cheiro do corpo do moço embriagou a menina de sonhos. Foi bem isso, sonhos. Depois dos lábios o caminho das mãos a procura corpo foi natural. [...] Dias depois a menina pintou os olhos de preto, a boca de vermelho, botou o seu vestido azul mais bonito e foi ao encontro do moço, marcaram o ponto de encontro em frente ao Teatro, depois tomaram gosto e sempre se encontravam por ali. Beberam cerveja, ouviram samba e se amaram, como dois bichos sedentos pela possessão. Possuíram-se. Comeram-se. Deliraram de prazer. Afogaram-se no próprio suor. Apertaram-se como se tentassem pegar a alma com as mãos. Calaram-se, eles queriam apenas ouvir a respiração acelerada, um do outro.
Deitaram na cama, se olhavam pelo espelho preso no teto. Agora o moço já arrancava sorrisos largos da menina, ela já não tinha mais vergonha de rir da vida. O moço contava suas histórias, a menina contava caso e mais casos das suas longas aventuras. [Ela é encantada com o sorriso e os olhos fechadinhos do moço, mas nem sabe se ele tem algum encanto por ela]. Os sentimentos cintilavam o olhar da menina, mas havia o medo de se entregar a paixão.
Adormeceram. Seus corpos não desgrudaram um minuto durante o sono, a respiração do moço no ouvido da menina, as pernas entrelaçadas e os pés unidos.  O dia raiou. Junto com a escuridão da noite tudo foi embora. Restou apenas o coração da menina a bater sozinho, ou ao menos era assim que ela pensava. Tomaram banho e partiram cada um para seu lado. 

Os olhos a denunciou na madrugada inteira... mas por sorte só se olharam através do espelho.




* inspirado no texto "A Noite" de Lissandra Pedreira.